O CQC cercou, tempos atrás, Chico Buarque na rua, que se esquivou como pôde. A dada altura, o repórter abordou-o nos termos: docinho de coco da MPB, amado pelas mulheres, beijado pelos homens... É verdade. Chico Buarque de Holanda é das poucas unanimidades deste país. Nesse sentido, o documentário “Uma Noite em 67” é imperdível, pelo registro de um momento em que aquilo que chamamos hoje MPB, sem saber ao certo o que é isso, mas que tem na música de Chico Buarque sua melhor expressão, estava se engendrando. À parte a comicidade de tudo, do antológico violão quebrado, há que se notar a cafonice de Roberto Carlos (ele melhorou muito, desde então), as perguntas sem noção dos repórteres, Caetano Veloso parecendo meio perdido nas falas de então, a fala de Edu Lobo, cujo “Ponteio” venceu o festival, a fala dos organizadores, e sobretudo as falas (ontem e hoje) de Chico Buarque ― ele já sabia, então, que era Chico Buarque de Holanda.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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