Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Rubem Braga: frases

FRASES ― Quando o nosso bravo Pedro I gritou, “do Ipiranga às margens plácidas”, seu famoso Independência ou Morte, não faltou quem atribuísse o grito a outros autores. Em todo caso, os historiadores da Independência dos Estados Unidos sempre citam uma frase de Patrick Henry, na Câmara da Virgínia, em 1975 ― Give me Liberty or give me Death.
Em carta ao Rei, La Bruyère, em pleno século XVII, dizia que a França era um vasto hospital; a mesma frase, com referência ao Brasil, foi muito citada como sendo de Miguel Pereira, se não me falha a memória.
Durante o Estado Novo, foi creditada a Getúlio Vargas uma belíssima frase ― “Só o Amor constrói para a Eternidade”, que afinal também era traduzida ― parece que de Augusto Comte.
Num romance de Guimarães Rosa, o personagem narrador diz, volta e meia, que “viver é muito perigoso”. Um escritor mineiro localizou a mesma frase em Goethe. Era muito do Rosa, essa mistura de Goethe com sertanejo.

BRAGA, Rubem. Recado de primavera. 8.ed. Rio de Janeiro: Record, 2008, p.86.

Nenhum comentário:

Postar um comentário