Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


domingo, 28 de novembro de 2010

O Caminho das Nuvens (Brasil, Vicente Amorim, 2003)

O Caminho das Nuvens é o longa de estreia de Vicente Amorim (que depois dirigiu Um Homem Bom), e flagra uma família que sai do Nordeste em direção ao Rio de Janeiro, viajando de bicicleta. O que move o chefe de família, Romão, interpretado por Wagner Moura, é conseguir um emprego que pague mil real, ou seja, a busca de uma vida melhor, pautada pela utopia da cidade grande. Esse sonho mostra a família chegando a um Rio de Janeiro bem diferente da utopia da viagem, e é nessa cidade que eles vão ficar. Wagner Moura começava a despontar como ator representativo de sua geração, e ao dar vida, tempos depois, ao Capitão Nascimento de Tropa de Elite, consagra-se, elevando à condição problemática de herói o agente repressor da violência surgida da abismal disparidade de distribuição de renda no Brasil. Indo ou voltando, os deslocamentos geográficos em busca de melhores condições de vida mostram o quanto Graciliano Ramos vislumbrou ao escrever Vidas secas



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