O Caminho das Nuvens é o longa de estreia de Vicente Amorim (que depois dirigiu Um Homem Bom), e flagra uma família que sai do Nordeste em direção ao Rio de Janeiro, viajando de bicicleta. O que move o chefe de família, Romão, interpretado por Wagner Moura, é conseguir um emprego que pague mil real, ou seja, a busca de uma vida melhor, pautada pela utopia da cidade grande. Esse sonho mostra a família chegando a um Rio de Janeiro bem diferente da utopia da viagem, e é nessa cidade que eles vão ficar. Wagner Moura começava a despontar como ator representativo de sua geração, e ao dar vida, tempos depois, ao Capitão Nascimento de Tropa de Elite, consagra-se, elevando à condição problemática de herói o agente repressor da violência surgida da abismal disparidade de distribuição de renda no Brasil. Indo ou voltando, os deslocamentos geográficos em busca de melhores condições de vida mostram o quanto Graciliano Ramos vislumbrou ao escrever Vidas secas.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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