A máquina ameaça a toda conquista
ao ousar ser no espírito e não na obediência.
Tanta inveja tem da mão do artista,
que corta mais duramente a obra na essência.
Nunca se atrasa, para que, uma vez, lhe escapemos
e, oleosa, na fábrica em silêncio se pertença.
Ela é a vida ― pensa saber mais do que sabemos;
ordena, cria e destrói, decidida e intensa.
Mas para nós o existir ainda é encantado.
Fontes, ainda, em cem lugares. Jogo de puras
forças e aquele que as toca se ajoelha admirado.
Suaves surgem palavras nunca ditas...
E a música, sempre nova, em vibrante arquitetura,
constrói sua casa, nas alturas infinitas.
RILKE, Rainer Maria. Os sonetos a Orfeu. Elegias de Duíno. Trad. Karlos Rischbieter e Paulo Garfunkel. Rio de Janeiro: Record, 2002, p.84-85.
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