ODE
“Esta manhã o ar estava cheio de anjos”
e sua súbita beleza era quase invisível
A manhã era os mesmos e transparentes anjos
e seus frágeis caminhos eram quase visíveis
Agora é noite e um anjo desgarrado
debate-se impotente no pegajoso mar
Numa praia distante suas asas são algas
e misteriosamente a noite está deserta
Ouço o teu canto pobre anjo decaído
mas estou preso e o abutre me contempla
Por que amaldiçoas quem imortal te fez?
a manhã não tem culpa se não vem nunca mais
cheia de anjos indecisos caminhando
sem pés sobre os caminhos do ar
Por que o desespero alma esquecida?
É teu consolo o teres sido um anjo
FAUSTINO, Mário. O homem e sua hora e outros poemas. São Paulo: Companhia de Bolso, 2009, p.205.
Nota: é sempre bom não perder de vista as observações que Sérgio Alcides fez acerca desta edição da poesia de Mário Faustino (aqui).
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