Cisterisco é uma mistura de cisco e asterisco.* Um asterisco, mesmo de perto, não passa de um cisco ― cisco da palavra que manda para o rodapé, para o dicionário, para outro texto, na hermenêutica sem fim da busca do sentido. De longe, bem longe, o mais longe que se puder, talvez tudo não passe de cisco, o Universo como uma profusão de ciscos em rota constante de colisão, quem sabe de coalizão, embora um cisco no olho, qualquer que seja o tamanho do cisco e do olho, possa dar algum trabalho, o que joga de novo para a hermenêutica. De todo modo, a distância parece ser um modo confortável para lidar com os ciscos: primeiro pelo senso de proporção que é restituído a tudo; segundo porque, muito perto, o cisco pode invadir o olho, atrapalhando ver o que antes era o objeto a ser visto ― desnecessário lembrar o provérbio bíblico e sua subliminar mensagem hermenêutica. Mais do que isso, o cisco que invade o olho é o peso do objeto na visão do sujeito. Como resistir à tentação de não seguir a trilha do asterisco, dos ciscos ao redor da palavra?
* Fusão intuída livremente numa passagem de Rayuela, é preciso admitir.
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