Sou a primeira a saber de minhas limitações, o que gerou, com o tempo, algumas necessidades curiosas. A primeira delas é correr apenas os meus riscos, somente eles, que os riscos do outro são arena alheia, perigosa, porque já é difícil entender o traçado dos próprios riscos, arriscar-se neles, imagine então. Este foi um aprendizado difícil, lento, especialmente porque pressupõe aprender (ou apreender) quais são os próprios riscos, discernindo-os daquilo que vem por assimilação, tarefa inconclusa. Não se intercambiam riscos. A segunda necessidade foi a escrita, risco que corro (correndo por fora) não sem hesitar e compreender o quanto sou limitada. Mas (lendo e) escrevendo, quem sabe, eu possa ampliar o campo de meus riscos e inclusive entender por que, por bondade, o outro pede que eu corra também os riscos dele. Como um desdobramento da segunda necessidade, escrever, vem a terceira, entender que meus frágeis limites ― ou os limites de minha fragilidade ― circunscrevem também os limites dos riscos que me permito correr, o que equivale a aceitar minhas limitações e tentar... tentar o quê? Aí é que está. A resposta se encontra na tentativa, voo cego que é, e a terceira via é pauta aberta.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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