Por tanto querer uma brecha no moto-contínuo dos últimos dias, acabei vislumbrando, com a surpresa que sempre me toma nas aparições da lua, uma enorme lua cheia no céu de fim de tarde já início de noite, não sendo propriamente um crepúsculo. Vislumbrei e considerei que a hora, imprópria para voltar para casa, poderia ser brindada com aquela lua inusitada, o que ficaria perfeito com a presença do mar. O mar estava ali, próximo, a alguns metros de caminhada e paciência, considerando que me encontrava na Barra da Tijuca. Caminhei, pois, em direção à praia, lá chegando já de noite, e me sentei num quiosque para simplesmente me apropriar daquela conjunção única de lua cheia, fim de tarde começo de noite e mar. O mar estava lá, indo e vindo, marulhando de leve naquele recanto quase sem ninguém. Foi quando, passado algum tempo, escutei cantar um quero-quero. Para quem nunca ouviu esta ave, é mesmo curioso imaginar como a onomatopeia funcionou para transformar o singular canto no singular nome da ave. Ocorre que ouvi quero-queros durante toda a infância, quer dizer, enquanto morei no interior. Devia ser uma ave típica, pois escutávamos sempre, especialmente à tarde. Então, era inconfundível o canto que estava ouvindo na praia no início da noite. O que traiu a distância foi a surpresa de perceber que, apesar da semelhança do canto e do reconhecimento, era outra a ave, ou canto, que agora escutava, pois os quero-queros da infância não sabiam nada de onomatopeias, muito menos de quereres acima de suas possibilidades. Bastava ouvir o canto e estranhar o nome.
Imagem daqui. Um PS: queria ter escrito melhor esse texto, mas no fundo a coisa mais fiel que poderia ter feito era simplesmente deixar aquela ave cantar.
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