Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


segunda-feira, 10 de outubro de 2011

dia mundial da saúde mental

― Parece um diálogo de idiotas ― comentou Traveler.
― De mongolóides puros ― disse Oliveira.
― A gente acha que vai explicar alguma coisa e cada vez é pior.
― A explicação é um erro bem-vestido ― afirmou Oliveira. ― Anote isso.

***

“Longo bate-papo com Traveler sobre a loucura. Falando dos sonhos, demo-nos conta, quase ao mesmo tempo, de que certas estruturas sonhadas seriam formas correntes de loucura, a menos que continuassem na vigília. Quando sonhamos nos é dado exercitar de graça nossa aptidão para a loucura. Suspeitamos, ao mesmo tempo, que toda loucura é um sonho que se fixa.”

CORTÁZAR, Julio. O jogo da amarelinha. Trad. Fernando de Castro Ferro. 15. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009, respectivamente p.332 e  p.459-460.

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