Foi me perguntando ontem, com alguma delicadeza, e por pessoa de minha estima, se eu já estava me desfazendo de 2010, quer dizer, se já tinha entrado no clima de renovação do ano novo. Se a letra não foi exatamente esta, o espírito, por alto, queria dizer algo como expurgar. Certamente, e não só na véspera, mas ao longo de todo o ano houve um exercício constante de deixar para trás o que era para ser deixado, e mesmo sutis esquecimentos, lapsos, atos falhos e objetos perdidos concorreram para isso. Não é possível se descolar (e deslocar) de certas experiências sem atravessar sua parte material e concreta. E se de algumas situações eu me coloquei na distância da ordem de anos-luz é porque essa era a distância de antes, simplesmente. Eu apenas não estava enxergando. Como continuarei não enxergando outras tantas coisas, até que a neblina, ou nebulosa, se desfaça, para se refazer em outra constelação. Então não há um ponto culminante, apesar do ritual de passagem. Há pequenas passagens, e alguns saltos de qualidade. Essas coisas não funcionam por graus, ou degraus de uma escadaria. Elas têm algo da confusão que encontramos nas criações de Escher, cuja mostra, finalmente, deixará o CCBB Brasília para vir para o Rio. Assim se espera.
Relativity, litografia, 1953
[imagem obtida no site oficial de Escher]
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