Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Emily Dickinson: Memória


Para limpar o Armário antigo ―
De “Memória” chamado ―
Toma da Escova reverente ―
E em silêncio o farás.

Esse labor trará surpresas ―
Também a Identidade
De outros Interlocutores
Probabilizará ―

Se apossa o Pó desse Domínio
Excelso ― a acumular-se ―
Ele não pode ser contido
Mas pode te calar ―


That sacred Closet when you sweep ―
Entitled “Memory” ―
Selected a reverential Broom ―
And do it silently.

‘Twill be a Labor de surprise ―
Besides Identity
Of other Interlocutors
A probability ―

August the Dust of that Domain ―
Unchallenged ― let it lie ―
You cannot supersede itself
But it can silence you ―

DICKINSON, Emily. Alguns poemas. Trad. José Lira. São Paulo: Iluminuras, 2008, p.144-145.

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