Uma das coisas mais desastradas que pode acontecer a alguém é entregar a escuta de sua voz a ouvidos pouco habilidosos. Mas é só assumindo algum tipo de risco que é possível ser ouvido, escolhendo igualmente silenciar. A elegância começa nas atitudes ― li faz muito tempo num texto versando sobre moda, provavelmente frase de algum estilista de renome ― talvez Yves Saint Laurent? E acaba nelas ― emendou recentemente um interlocutor atento e curioso. Mas só foi possível captar essa intuição da qualidade da escuta apurando, de alguma forma, a intuição. Quer dizer: apurando o ouvido. Por isso me ocorre esse trecho de Clarice Lispector, lido hoje, "Não entender" (A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999, p.172):
“Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo.”
O trecho me consola do tanto que estou me sentindo burrinha, com meu embaraço diante da vida, das coisas, das pessoas, das diferentes situações de que não é possível se furtar. Um pouco disso é o esforço da tese: gastei bastante da minha inteligência na escrita, e tenho que guardar mais estoque para o que vem agora, os ajustes finais, o sine qua non. De forma que esse trecho da Clarice Lispector deveras me acalma ― pelo menos me poupa o esforço inútil de entender o que fatalmente escapa. Mas o problema é que quero entender, e há meio mundo de coisas a descortinar. A meio caminho entre a luz e a escuridão, preferindo muitas vezes esta, fui escutando algumas falas, e duas delas, recentes, eu anotei (trata-se de pessoas da minha melhor estima):
Mariana,
Obrigada por este ano de aprendizado. Desejo a você enorme sucesso na defesa da tese e que o ano de 2011 seja mais rico e pleno de felicidade.
Luz, muita luz, por todos os seus caminhos.
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Por isso, digo que estou aqui, e, na medida do possível, sou seu ponto de interlocução. Dois faróis numa noite escura, você e eu.
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P.S. Nisso tudo faltou anotar uma coisa: fui passar o Natal no meu estado de origem, o Espírito Santo e, pelo menos na intenção, ir para lá guardou uma conotação particularmente interessante. Mas o momento é todo de escuta, não há dúvida.
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