Há um equívoco na palavra comunicação. Via de regra, as pessoas escutam apenas o que querem escutar, o que leva mais à concordância e ao assentimento que a uma eventual mudança de perspectiva. É como se as conversas, por polidez e o mais, não passassem de trocas de interjeições. Mudar de perspectiva, no sentido que Nietzsche deu ao termo, assumindo que tudo o que se tem são perspectivas, exige um desprendimento que o conforto a que se habituou um burguês quadrado (para empregar expressão de Clarice Lispector em crônica acerca de uma tela de Paul Klee, transcrita neste blog) não permite: "a possibilidade, a que é verdadeiramente, não é para ser explicada a um burguês quadrado. E à medida que a pessoa quiser explicar se enreda em palavras, poderá perder a coragem, estará perdendo a liberdade."
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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