ESTE MEU CORPO
Este meu corpo, que alguém me deu,
Que fazer dele, tão um, tão meu?
Respirar, este quieto prazer
― Digam-me ― a quem devo agradecer?
Sou jardineiro ou só flor que fana?
Não estou só na prisão humana.
Sobre as vidraças do infinito
Eis meu calor, meu sopro inscrito.
Minha marca está ali impressa,
Mesmo que não se reconheça.
Que escoe a borra desta hora,
Ela está ali ― não vai embora.
CAMPOS, Augusto de. Poesia da recusa. São Paulo: Perspectiva, 2006. p.112. AQUI uma pequena coletânea de poesia russa moderna traduzida por Boris Schnaiderman e Nelson Ascher.
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