Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


domingo, 21 de agosto de 2011

silêncio

Rápido, o silêncio avança
sobre a paisagem.
Revela um ar de visitante antigo,
chegando manso e impressentido,
como convém a senhores experimentados.
Diante dele as palavras, aves cautelosas,
movem-se com pudor e pouco rumor,
tateantes,
pois ele traz chaves que,
uma a uma,
em gaiolas vai trancá-las,
de onde sairão apenas
mediante acordo,
jamais todas de uma vez ―
em grupos e ordenação escolhidos
segundo aquilo que se pode dizer. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário