A bela frase de Clarice Lispector ― o verbo saber em regência e sentido pouco usuais ―, é motivo para algumas divagações de fim de feira, fim de sexta-feira, semana que me trouxe preocupações novas. Novas porque novos problemas podem deixar uma criatura atordoada. Então me lembrei, com carinho renovado, de minhas leituras de Walter Benjamin, seu ensaio talvez mais célebre, “O narrador”. Walter Benjamin foi um casamento no mestrado e o necessário divórcio no doutorado. Mas nunca consegui “esquecer Benjamin”. E quando alguma coisa nova me perturba, atordoa, eu volto àquela surrada noção de que tudo o que se precisa, às vezes, é uma narrativa que dê sentido ao que se está vivendo. São leituras antigas, e a memória não quer cometer deslizes teóricos. Pois hoje, por razões que não cabem expor, eu tive certeza deste postulado de Walter Benjamin. E não é que acredite que as narrativas de Clarice Lispector vão me acalmar. Pelo contrário: vão colocar ainda mais lenha na fogueira do espanto. Mas é que fiz descobertas deveras importantes, sem ter qualquer livro na mão, e isso tem a ver com tudo que li desses autores, embora uma citação civilizada pudesse salvar a aparência de mistificação. Já foi feita, no título da postagem.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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