A cada um Deus fala, antes de criá-lo
e noite em fora vai com ele, em silêncio:
mas as palavras, ainda antes do início,
são palavras de nuvens.
Longe de teus sentidos
vou até à fímbria de tua saudade:
dá-me algo de vestir!
Atrás das coisas cresce uma espécie de incêndio
que de ti projeta sombras
cada vez mais, até que elas me cobrem todo.
Deixa que te aconteça tudo: a beleza e o medo.
É preciso ir em frente, sentimento nenhum é o derradeiro.
Não te deixes ficar longe de mim.
Bem perto está o país
a que dão o nome de vida.
Tu o reconhecerás pela seriedade dele.
Dá-me tua mão.
RILKE, Rainer Maria. Livro de horas. Trad. Geir Campos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1993, p.76.
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