Na caminhada habitual (hoje matinal), havia uma
poeira muito fina de água caindo do céu. Num dado (e por um) momento, enquanto
esperava a vez de atravessar a rua, tudo assumiu uma forma singular ― talvez pela
circunstância de me encontrar parada, no contrafluxo do movimento que vinha
fazendo ―, e aquela poeira de água, intensificando-se muito devagar, emprestava
à atmosfera que vinha ao encontro de meu rosto um frescor mágico. Tão pouco,
uma poeirinha de água, rarefeita, sobre a vegetação, e o mundo parecia integrar-se
ao sentido perdido no exílio do éden.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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