Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

a experiência da dor e da morte

A morte de Ivan Ilitch é um livro que se lê devagar ― devagar no sentido da expectativa de leitura e do(s) sentido(s) do que está sendo narrado. Esse sentido vai chegando sem alarde, e nunca chega de todo, como se a leitura continuasse depois de finda a narrativa e a vida de Ivan Ilitch. Tudo é muito doloroso, morte e vida compõem o mesmo teatro hediondo que causa horror a Ivan Ilitch no final trágico de sua vida, vida que trazia a morte em embrião: “Quando ele viu de manhã o criado, depois a mulher, em seguida a filha, o médico, cada um dos movimentos deles, cada uma de suas palavras confirmavam para ele a terrível verdade que se revelara naquela noite. Via neles a si mesmo, tudo aquilo de que vivera, e via claramente que tudo aquilo era não o que devia ser, mas um embuste horrível, descomunal, que ocultava tanto a vida como a morte.” (TOLSTÓI, Lev. A morte de Ivan Ilitch. Trad. Boris Schnaiderman. São Paulo: Editora 34, 2009, p.72). 

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