A
morte de Ivan Ilitch é um livro que se lê devagar ― devagar no
sentido da expectativa de leitura e do(s) sentido(s) do que está sendo narrado.
Esse sentido vai chegando sem alarde, e nunca chega de todo, como se a leitura
continuasse depois de finda a narrativa e a vida de Ivan Ilitch. Tudo é muito
doloroso, morte e vida compõem o mesmo teatro hediondo que causa horror a Ivan
Ilitch no final trágico de sua vida, vida que trazia a morte em embrião: “Quando
ele viu de manhã o criado, depois a mulher, em seguida a filha, o médico, cada
um dos movimentos deles, cada uma de suas palavras confirmavam para ele a
terrível verdade que se revelara naquela noite. Via neles a si mesmo, tudo
aquilo de que vivera, e via claramente que tudo aquilo era não o que devia ser,
mas um embuste horrível, descomunal, que ocultava
tanto a vida como a morte.” (TOLSTÓI, Lev. A
morte de Ivan Ilitch. Trad. Boris Schnaiderman. São Paulo: Editora 34,
2009, p.72).
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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