“A mentira, essa
mentira que lhe era pregada nas vésperas de sua morte, a mentira que devia abaixar
esse ato terrível e solene da sua morte até o nível de todas as suas visitas,
das cortinas, do esturjão do jantar... era horrivelmente penosa para Ivan Ilitch.
[...] Por meio daquela mesma ‘decência’ a que ele servira a vida inteira, todos
os circunstantes rebaixavam o ato terrível, horroroso, da sua morte, ele via bem,
ao nível de um acaso desagradável, quase uma inconveniência (a exemplo da
maneira com que se trata um homem que, entrando numa sala de visitas, passa a
exalar um mau cheiro); via que ninguém haveria de compadecer-se dele, porque
ninguém queria sequer compreender a sua situação.”
TOLSTÓI, Lev. A morte de Ivan Ilitch. Trad. Boris Schnaiderman. São Paulo:
Editora 34, 2009, p.56.
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