Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

palavrões engatilhados

Como pedestre contumaz, convivo com as infrações cometidas pelos motoristas, de variada espécie, a mais comum sendo o avanço do sinal vermelho, limitando ainda mais o tempo de travessia do pedestre. A rua é deles, dos carros e seus proprietários, os pedestres que se virem. Pois eu, além de me virar, tenho para essas situações alguns palavrões engatilhados, que pronuncio antes para dentro, mas que saem como resposta reflexa ao desrespeito. "Corno", por exemplo, eu sempre falo. Não vai mudar nada, mas também, se eu for atropelada, por exemplo, a única coisa que vai mudar é que vou deixar de existir ― morrer ―, porque a impunidade grassa como os cornos neste país. Nada vai mudar. Mas eu, dizendo meu xingamento, ainda que para dentro, fico mais forte, e adio minha morte.

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