O programa dominical Concertos para a Juventude foi, creio, minha iniciação ao que eu hoje chamaria o sentido do estético, ou o sentido estético da vida. Não havia nada no interior onde eu morava (esta é uma crônica complicada, difícil), mas um belo dia eis que se comprou uma televisão, para o bem e para o mal. Então me dou conta de que a arte foi o meu investimento, e agora um reduto. Não ouvia aqueles concertos em vão. Tento reatar o fio de hoje com o daquele tempo, os todos sacrifícios, e o único que faz algum sentido é a arte, mesmo em sua quase sempre ausência de sentido, mesmo na dificuldade de reatar o fio. Segue uma pequena apresentação do formato do programa fornecida pela emissora (aqui).
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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