A história do LSD me levou à busca do relato de Paulo Mendes Campos. Comprei o livro (Cisne de feltro) e foi a primeira coisa que li, assombrada com tanta revelação, que ainda não assimilei. O relato é longo, riquíssimo, diria mesmo imperdível, e a tentação de postá-lo aqui é grande. Mas o meu momento é de muito trabalho, não posso me dar esse luxo. De forma que, naquele meu ritmo meio dispersivo de leitura, vou lendo as outras crônicas do livro, às vezes no ônibus, e me reencontrei com esse autor ímpar de nossa literatura, que me causou tanto assombro com a crônica O cego de Ipanema. Paulo Mendes Campos é mineiro, e fez parte dos desatinos da rapaziada, mas não é Fernando Sabino, Carlos Drummond Andrade ou Otto Lara Rezende. Paulo Mendes Campos é uma flor melancólica e cheia de humor que brota do tédio do asfalto.
"Ruim na infância é a incompreensão dos mais velhos. Estes são mais infelizes ainda e sofrem de tédio ao medo, à perplexidade, à agressividade da criança. Decidem do destino infantil com palavras lacônicas, nessa mesma reserva cruel que Deus mantém para com os homens. Há uma razão para tudo: o horror é não sabermos distingui-la, e só encontrarmos alívio na resignação ou no desespero. Assim respondíamos com ressentimento à naturalidade egoísta com que os mais velhos nos viam seguir para o purgatório, onde íamos expiar lentamente um crime que ainda não tínhamos cometido."
CAMPOS, Paulo Mendes. O colégio na montanha. Cisne de feltro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001, p. 57.
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