Foi no mestrado que ouvi falar de Cildo Meireles pela primeira vez. Havia lido um texto que fazia alusão ao um trabalho dele, e comentei algo assim com meu orientador: o texto fala de um tal de Cildo Meireles. Meu orientador, gatilho rápido, me puxou as orelhas, num jeito muito dele e ágil de falar e pensar: Deus do céu, não sabe quem é Cildo Meireles, um dos maiores artistas plásticos deste país! Pois era este o depoimento que eu dava com a expressão um tal de. Ah, como é doce a ignorância! Até hoje não consigo deixar de rir com a lembrança dessa cena, o cômico de tudo, como a linguagem trai. Mas tomei tento, nem foi essa a primeira vez que me surpreendi (ou fui surpreendida) na minha ignorância. A fala dele era clara, nunca me esqueci. De fato, do pouco que entendo de arte, o trabalho de Cildo Meireles é impactante, e quando fui ao Museu de Arte Contemporânea de Inhotim-MG, tive oportunidade de conferir uma galeria com três instalações dele, algo que rendeu dois posts (Desvio para o vermelho e Através). E aí justifico o vídeo acima, cheio de ruídos. O mundo está repleto deles, e já não me lembro quem me falou uma coisa assim: que é bom ter um rádio em casa, pois à noite, entre as estações, é possível captar os ruídos, os sons do universo...
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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