Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


domingo, 9 de janeiro de 2011

pequenos milagres


Abro um livro de Machado de Assis, pois que estou com saudade do autor, e me deparo com este insólito marcador de página, do tempo em que morava em BH e ia com mais frequência ao cinema, colecionando postais publicitários (pop cards) que os espaços de cinema, entre outros, passaram a disponibilizar. Deve haver algum engano. Milagres não combinam com Machado de Assis, e eu, entre o ceticismo deste e a magia daqueles, estou pendendo mais a acreditar que a descrer. Colecionar postais, abstraindo seus fins publicitários, é uma forma de contentar-se com pouco. Pouco que neste caso é muito, pois deseja a beleza, tão-somente. E por falar em Machado, o marcador cousas díspares não vai colar: tem qualquer coisa de sarcástico nele, de auto-deboche, que não estava pressuposto na intenção original. Talvez a solução esteja em procurar outro substantivo: posts díspares, mas no singular. É isso. Resolvido. Sonhos são janelas por onde a alma escapa enquanto o corpo tenta descansar.

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