Creio que raramente eu consegui que minha delicadeza fosse percebida ― ou ela está bem escondida, ou foi brutalizada (e quem sabe mesmo se perdeu). Como sei dela então? Reminiscências da infância me dão notícia de um tempo em que eu existia, apenas, e o mundo parecia uma promessa feliz. Mas quando digo de um desejo de que ela seja percebida, então é como se ela continuasse aqui, em algum recesso ou canto obscuro de difícil acesso.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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