Uma das combinações de palavras jogadas no google ou congêneres que conduziu a este blog, essa semana, foi "ilha do naufrágio". Da minha infância trago a memória de A ilha perdida, que todo mundo leu e eu só ouvia falar que era incrível (acho que só li bem depois, quando não tinha mais como achar incrível), de uma coleção de histórias infanto-juvenis da Ática que foi a leitura escolar da minha geração. Há também a narrativa famosa da história de Robinson Crusoe, o habitante solitário de uma ilha. Mas aqui não é a ilha perdida ou do naufrágio, nem eu sou o personagem de Daniel Defoe. Sabe-se lá o que busca alguém numa ilha do naufrágio. Sei que, na minha infância, havia um programa de televisão semanal muito cotado, "A Ilha da Fantasia", em que as pessoas chegavam em busca das coisas mais bizarras possíveis. A única lembrança que ficou, daquele mundo imaginário e fantasioso, foi de um visitante que queria viver qualquer coisa relativa ao romance O morro dos ventos uivantes, e foi conduzido para uma espécie de castelo isolado e sombrio para viver sua fantasia. Ilha da fantasia + morro dos ventos uivantes é uma combinação curiosa de esquisitice para um imaginário infantil, mas certamente foi mais estimulante que as coisas que as crianças estão assistindo e lendo hoje, salvo engano.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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