Na véspera de minha mudança, quase madrugada, escrevi isso, enquanto encaixotava livros e objetos. Escrevi, mas postei acolá. Não, não há contradição: escrevi lá.
Enquanto arrumo as coisas para a mudança, abri a porta da casa onde moro pela última noite para verificar a caixa do correio. E uma brisa muito agradável arejava a área externa. Resolvi deixar a porta aberta, para a brisa entrar. Nunca, antes, eu havia notado essa brisa, ou se notei não lhe dei importância, talvez pelo horário, quase meia noite, talvez pelo hábito de chegar, entrar rápido e fechar a porta. Então sei que não abri a porta para verificar o correio: abri-a para receber a brisa agradável, deixar o frescor adentrar a casa. Porque amanhã não estarei mais aqui, e é preciso que as coisas saiam um pouco de seus eixos para que esses momentos de intensa liberdade possam ter ensejo: a porta aberta da casa à noite, sem qualquer perigo. Estou deixando isso, pelo conforto de um apartamento, cuja porta ficará permanentemente fechada. Mas não se trata de uma negociata, em que perdas e ganhos são computados. Porque sei que levarei esta porta aberta comigo, minha liberdade.
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