Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Chico Buarque

“Como no caso dessa história do verso que você está apontando [‘amar uma mulher sem orifício’]. Sei exatamente como ela foi criada: num blog de um cara da revista Veja, que tem uma enorme estima pela minha pessoa e gosta de lançar esse tipo de futrica. Ali vale tudo, já sugeriram até que se desapropriasse meu campo de futebol para a construção de casas populares. É um problema que vem de muitos anos, uma questão doentia de uma revista contra um artista. Parece que o cara que manda nessa revista tem ambições literárias. Então ele não gostou de os meus livros ganharem prêmios, porque ele quer ser escritor. Aí, decidi me vingar. Sabe o que eu fiz? Li o romance do cara, um tal de [Mario] Sabino. Não é parente do Fernando Sabino, acho. Fui até o fim, li tudo, tudo. E fiquei tranquilo, passou a raiva [risos]. Falei: ‘Bom, o melhor que esse cara tem a fazer é ser editor da revista Veja’.”

Rolling Stone, n.61, out. 2011, p.106-108.

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