Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


terça-feira, 18 de outubro de 2011

possivelmente isso estaria certo se não fosse outro modo de dizer que

pressão
compressão
incompreensão
apreensão
apreender
aprender
repreender
prender―

capturar em signos o nirvana que abre as portas da prisão encenada nas possibilidades da linguagem, que prende em signos os sentidos que querem apreender o sentido da vida, percebendo sutilmente que a palavra capturar é uma traição à promessa do nirvana, que não se deixar atrair por torneios de linguagem.
OU
vislumbrar signos ― palavras ― com mais possibilidades que impossibilidades de significar qualquer coisa que não seja sempre a mesma coisa, a mesma prisão do já sabido nos sentidos dados nas palavras criadas para dizer esses sentidos e não outros ― a cama metafórica oferecida pela linguagem deixa entrever, no sonho, como uma espécie de concessão, outros caminhos que a linguagem pode trilhar, por exemplo sem a palavra pressão.
OU
compreender que na palavra pressão está a própria pressão ― por isso a palavra pressão, e não outra, foi criada, para fazer e significar pressão, e quanto mais se sente a pressão mais se compreende que na palavra pressão e suas mil e uma úteis utilitárias utilidades está a opressão do signo, da linguagem, opressão que é uma pressão levemente assimilada e incorporada, o corpo domado pela pressão da linguagem sonhando mundos tão incompreensíveis que sequer chegam à esfera da linguagem.
OU
o que são signos senão impressões de sentidos (sentidos impressos) que o mundo vai deixando nas muitas camadas de nosso ser, ser que quer ser, quer apaixonadamente ser, e vai tentando desbravar caminhos na linguagem?

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