Ilustração da 13ª edição de Sagarana, editora José Olympio
Augusto Matraga é marcado por seu inimigo, na descida ao inferno que quase o atirou à morte ― o que não deixa de ser uma morte simbólica ―, com um ferro incandescente contendo um triângulo inscrito numa circunferência. Walnice Nogueira Galvão, no ensaio "Matraga: sua marca" (visualização parcial), observa:
“Muitos e muitos séculos mais tarde, uma personagem de ficção, o Matraga, também saberá transformar sua marca de ignomínia em marca de pertença. Ferrado como rês no quarto traseiro com ferro de ferrar gado, reservado a animal e propriedade, trilhará o duro caminho da penitência e cumprirá em seu destino o sinal numinoso ― triângulo em circunferência ― com que foi marcado. Mas antes de chegar lá, e praticamente a meio caminho, a questão da marca reaparece, com enorme força, no surgimento do fenômeno da estigmatização.” (p.64)
“As duas figuras geométricas, circunferência e triângulo, têm ao mesmo tempo um estatuto igual e oposto. Igual, porque ambas são, a mesmo título, figuras primárias da Geometria Plana. Oposto porque a circunferência, constituída por um número infinito de pontos, enquanto círculo tem tendencialmente um número infinito de lados, e o triângulo o número mínimo possível de lados para constituir uma figura geométrica. Esta igualdade na oposição, e oposição na igualdade, evidentemente não poderia passar despercebida e há séculos perturba a mente humana.” (p.72)
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