...
Neste momento as sombras
fervilhando no bosque
procuram-se no bosque
como cobras, no bosque,
iguais a morcegos, sugam-se
penetram-se ― no bosque ―
como vermes.
Umas as outras acham-se
como quem acha o vácuo,
no bosque
o reverso do nada
deparam
para logo no bosque
perder: bosque e vazio.
Neste momento, os carros
ressoam sobre o concreto
por entre bosque e rio ―
neste momento o mar
trepida sobre o leito
por entre a praia, e praia ―
Neste momento a sombra
cobre mundo e vazio
neste momento o tempo
suga o vazio, o tempo
procura o tempo, encontra
o tempo, penetra o tempo e perde-se
sombra enrolada a sombra,
nó de víboras, sombra,
um só caos, busca e encontro
e perda e tudo: sombras.
...
FAUSTINO, Mário. O homem e sua hora e outros poemas. São Paulo: Companhia de Bolso, 2009, p.118-119.
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