O que mais surpreende em Quando fui outro, antologia de poesia e prosa de Fernando Pessoa organizada por Luiz Ruffato, é o contraste entre a capa e a melancolia que compõe o volume. Falar de melancolia em Fernando Pessoa é praticamente uma redundância, mas não há termo que quadre melhor, numa pincelada rápida. Abre a coletânea, salvo engano, "Tabacaria", um dos poemas mais desconcertantes de Álvaro de Campos, poema que provoca uma leitura do assombro, do espanto, do impossível. A seleção de Luiz Ruffato foi bem cuidadosa, a edição está caprichada, trata-se de um livro bonito, em muitos sentidos. Se isso não fosse um truísmo, diria que há em Fernando Pessoa uma densidade que o discurso não comporta, e que isso diz muito de certas questões referentes à poesia moderna. Mas a capa, acenando com uma alegria... quem é esse outro, que desejou ser amado? Talvez o mesmo de quem jorrou uma poesia que torna impossível não amar, poesia e poeta. Segue o link da pesquisa buscapé para o livro (aqui).
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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