Sobre Paulo Coelho, escreveu certa feita o crítico Davi Arrigucci Júnior: "Não li e não gostei." Pelo pouco que li, dá pra fazer o mesmo com Tropa de Elite 2: apenas mais uma sessão de "catarse" para o asfalto. Sem contar o mal-disfarçado lançamento em pleno calor do debate presidencial. As cenas de truculência de Tropa de Elite 1 eram de levar ao vômito. A que interesses estão servindo sequências "cinematográficas" que encenam a violência nesse grau de exposição cruel e visceral de suas próprias entranhas? O que o país tem a lucrar com combinações filmadas em alta definição do Jornal Nacional e de Passione, embrulhadas com o bom e velho discurso maniqueísta? Será preciso assistir à continuação para saber que a coisa está muito mais cheia de esquemas do que supõe minha pobre e vã filosofia? Prefiro acreditar no talento de Wagner Moura apostando em Hamlet.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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