Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


terça-feira, 5 de julho de 2011

álbum de fotografias

Ontem, enquanto aguardava na rodoviária a chegada de minha mãe, enganando o quanto podia o frio e tentando em vão enganar o cansaço (já passava das onze da noite), uma pessoa (uma moça, mais especificamente) me abordou pelo nome:
― Mariana?
― Sim?
― Sou eu, K.
― !?
E continuei na íntima interrogação (e espanto) enquanto durou a conversa. Impossível reconhecê-la. Não pelo pouco que convivemos na faculdade, mas pelo muito que o tempo, relativamente curto aliás, lhe fez. Num curto interregno de 10 anos quanto uma vida se transforma! Os traços do rosto de hoje não deixavam entrever os traços que a memória guardou do rosto esquecido de outrora. Daquelas pessoas ficaram-me uma ou duas, e um álbum de fotografias, a que volta e meio volto. Meu maior susto, em tudo, foi a possibilidade de tornar-me também irreconhecível a alguém, não porque quero ser lembrada (em alguns casos quero exatamente o oposto), mas pela transformação em si.  

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