Ontem, enquanto aguardava na rodoviária a chegada de minha mãe, enganando o quanto podia o frio e tentando em vão enganar o cansaço (já passava das onze da noite), uma pessoa (uma moça, mais especificamente) me abordou pelo nome:
― Mariana?
― Sim?
― Sou eu, K.
― !?
E continuei na íntima interrogação (e espanto) enquanto durou a conversa. Impossível reconhecê-la. Não pelo pouco que convivemos na faculdade, mas pelo muito que o tempo, relativamente curto aliás, lhe fez. Num curto interregno de 10 anos quanto uma vida se transforma! Os traços do rosto de hoje não deixavam entrever os traços que a memória guardou do rosto esquecido de outrora. Daquelas pessoas ficaram-me uma ou duas, e um álbum de fotografias, a que volta e meio volto. Meu maior susto, em tudo, foi a possibilidade de tornar-me também irreconhecível a alguém, não porque quero ser lembrada (em alguns casos quero exatamente o oposto), mas pela transformação em si.
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