Casado duas vezes, Graciliano tem seis filhos e duas netas. Pergunto-lhe se costuma ajudar a mulher em casa, e ele se espanta:
― Já faço muito em pagar as despesas... Aliás, tenho horror a compras. E quando ouço o telefone, tranco-me.
― Aos domingos, o que costuma fazer?
― Em geral escrevo pela manhã e à tarde durmo.
O autor de Vidas secas não faz visitas, não vai a concertos nem a conferências e não gosta de música. Tem, entretanto, um velho hábito: vai diariamente à Livraria José Olympio, na Rua do Ouvidor, e fica lá várias horas, num banco que já é quase propriedade sua, localizado no fundo da loja.
― Muitas vezes vou lá dormir ― esclarece-me. ― Mas aparecem amigos, conhecidos, e toca-se a conversar.
Em virtude desse hábito, muita gente pensa que Graciliano dá a vida por um “papo”. Ele, porém, desfaz-me essa impressão:
― Quase sempre converso forçado, porque chegam pessoas. Mas na verdade muitos dias preferiria ficar quieto, sem trocar palavra. Também é fato que lá aparecem bons amigos, desses que a gente revê com prazer. De um modo geral, porém, sou uma vítima dos cacetes.
SENNA, Homero. República das letras: entrevistas com 20 grandes escritores brasileiros. 3.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996, p.208-209. [1944] Homero Senna informa em nota que o referido banco, por doação do editor da José Olympio, encontra-se hoje na Fundação Casa de Rui Barbosa, Centro de Literatura Brasileira, e é conhecido como “o banco do velho Graça”.
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