Um comentário recente num post de um poema de Manuel Bandeira, sentei-me um pouco aqui no post "do café" (aqui), trouxe-me a sugestão de pensar no post como uma parada num café, como a conter (nos dois sentidos), ainda que momentaneamente, o fluxo do caos, em que esse caos encontre alguma expressão tangível, inteligível. Imaginar na escrita de um post (ou na sua leitura, ou mesmo na leitura do que quer que seja) certo imponderável de quem se coloca na pausa, no contrafluxo; imaginar certa gratuidade no gesto de ler e escrever, como quem se senta em um café para nada, para simplesmente subtrair-se ao turbilhão da vida, à agitação frenética das pessoas. Sentar-se no post do "café", sentar-se no "café" do post, pelo menos no meu caso, e nos últimos tempos, não deixa de ser um exercício em que encontro um respiradouro para o turbilhão. Livrarias não costumam dispensar seus cafés, por vezes charmosos, como também se tornou metáfora corrente café literário, ou café filosófico. Pois este post quer ser apenas isso: a gratuidade do gesto de escrever. Eu, que sou tão porosa, e preciso tanto da escrita.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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