Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


domingo, 5 de dezembro de 2010

infância

A infância é o passado mítico que cada um inventa para si. Quando trabalhei mitos com as crianças do 6º ano, surpreendi-me, numa turma, com um grupo de meninos que sabia muito de mitologia grega, e que se dispuseram não só a explanar para a turma como encenar o mito da criação do mundo segundo os gregos (outros grupos também encenaram, outras mitologias, com maior ou menor grau de empolgação e inventividade). Ficou-me na memória os gregos-mirins, apaixonados por Zeus, Prometeu, Epimeteu, Pandora... Mitos da infância da humanidade, a infância e seus mitos, suas invenções, seus sonhos. Adoráveis garotos e garotas brincando de deuses, enquanto a vida não lhes vem impor a condição de homens, prometeus acorrentados a desejar coisas vindas dos confins da infância, que as mãos do poema anseiam (aqui).

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