O homem que copiava é um filme sobre impossiblidades. Antes, um filme sobre o que é verossímil quando o assunto é ficção. Os sonetos de Shakespeare não são gratuitos, como nada é gratuito neste filme que é o melhor, talvez o único filme de fato, excetuando-se o excelente curta Ilha das Flores (aqui), do diretor Jorge Furtado. Não há sinopse ou resenha que dê conta de O homem que copiava, pois o que está em jogo não é a história em si, é o narrar, como criar e tornar verossímeis personagens e situações. Talvez Jorge Furtado tenha lido algo da teoria da causalidade de Jorge Luis Borges na narrativa romanesca. É um filme para se assistir pelo prazer da narrativa. E como nada é casual no filme, aparece no final uma misteriosa galinha, numa excelente sacada do diretor. Na revista Contracampo (aqui) há um depoimento sobre o filme, atribuído ao diretor. Mas o melhor talvez seja não conferir e ir direto ao filme, tentar decifrar seu enigma, o enigma da galinha, os enigmas de André (Lázaro Ramos) e Sílvia (Leandra Leal), contrabalançados pelas armações de Marinês (Luana Piovani) e Cardoso (Pedro Cardoso). Todos em atuações impecáveis e cheias de humor.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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