Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sábado, 20 de março de 2010

"Através" - Cildo Meireles - Inhotim

O Museu de Arte Contemporânea de Inhotim (Brumadinho-MG) possui uma galeria exclusiva para o artista plástico Cildo Mireles, em caráter permanente. Uma de suas instalações mais intrigantes é "Através". Segue a imagem:

Cildo Meireles, Através, 1938-1989, materiais diversos, 600 x 1500 x 1500 cm, foto: Pedro Motta

Trata-se de uma obra em que se é convidado a entrar, com sapatos fechados, em virtude dos cacos de vidro espalhados pelo chão, em que diferentes barreiras - feitas com os materiais mais distintos - são atravessadas, ou não. E é claro que o impacto fica por conta de reconhecer naquelas barreiras diferentes situações pelas quais se passa no cotidiano - muros, grades, cortinas, cercas, portas, portões etc. Atravessá-las é uma experiência de auto-reconhecimento. Segue a sinopse tal qual fornecida pelo site:

"Através está entre as obras de Cildo Meireles nas quais, por meio de jogos formais com materiais cotidianos, o artista lida com questões mais amplas, como a nossa maneira de perceber o espaço e, em última análise, o mundo. Trata-se de uma coleção de materiais e objetos utilizados comumente para criar barreiras, com os mais diferentes tipos de usos e cargas psicológicas: de uma cortina de chuveiro a uma grade de prisão, passando por materiais de origem doméstica, industrial, institucional. Sempre em dupla, os elementos se organizam com rigor geométrico sobre um chão de vidro estilhaçado, oferecendo diferentes tipos de transparência para os olhos, que à distancia penetra a estrutura. O convite é que o corpo experimente de perto esta estrutura, descobrindo e deixando para trás novas barreiras. Com sua conformação labiríntica e experiência sensorial de descoberta, Através e seus obstáculos aludem às barreiras da vida e ao nosso desejo, nem sempre claro, de superá-las."

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