...
Uma gaivota que passa,
E a minha ternura é maior.
Álvaro de Campos. Ode marítima. Fernando Pessoa. O eu profundo e outros eus. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, s/d, p.224.
Antes o voo da ave, que passa e não deixa rasto,
Que a passagem do animal, que fica lembrado no chão.
A ave passa e esquece, e assim deve ser.
O animal, onde já não está e por isso de nada serve,
Mostra que já esteve, o que não serve para nada.
A recordação é uma traição à Natureza,
Porque a Natureza de ontem não é Natureza.
O que foi não é nada, e lembrar é não ver.
Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!
Alberto Caeiro. O guardador de rebanhos. Fernando Pessoa. O eu profundo e outros eus. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, s/d, p.161-162.
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