Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


terça-feira, 12 de julho de 2011

Dylan Thomas: Was there a time...

É impossível ser indiferente a tanta beleza:

Houve um tempo em que os bailarinos com seus violinos
Esqueciam suas agruras nos circos da infância?
Houve um tempo em que choravam sobre os livros,
Mas o tempo engendrou uma larva em seus rastros.
Eles não estão a salvo sob o arco do céu.
O mais seguro nesta vida é o que jamais se conhece.
Sob os signos do céu, os que não possuem braços
Têm as mãos imaculadas, e, assim como o espectro sem coração
É o único intocado, assim o cego é quem melhor vê.

Dylan Thomas. Poemas reunidos. Trad. Ivan Junqueira. 2.ed. rev. Rio de Janeiro: José Olympio, p.109.

Agora a moldura: li este poema hoje, no ônibus, indo para a análise, enquanto a memória buscava, em vão, lembrar-se de qual teria sido o poema de Dylan Thomas traduzido para o português que havia lido alhures, na blogosfera, muito bonito. Li de relance as considerações do tradutor sobre os poemas que serviram de base, questão sempre complexa na edição de textos, e ao que consta mais complexa no caso de Dylan Thomas. Vai ficar para outro post. A tradução não é bilingue, o vírus da desconfiança falou mais alto que a beleza que arrebatou no momento da leitura, e a carne por fim foi fraca: uma rápida combinação de palavras no Google levou não só ao poema original como ao outro poema que referi acima, e que era este mesmo, vertido para o português por HMBF.

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