E SONHOU A MULHER QUE SE CUMPRIRA
E sonhou a mulher que se cumprira.
E sonhou que no ventre da guitarra
Silente uma semente se partira
Em pranto, riso e música, fanfarra
De dor e glória por delfim nascido.
E sonhou a mulher que, enfim florido
Seu trato de terreno roxo, aberto,
Dormia sem sonhar sobre o deserto
Passado que em futuro então se abria
Frutificando em palmas de alegria.
Na lira umbilical Orfeu tocava
Acalanto ilusório à que dormia
E entre as árvores de sonho balançava
A rede filial inda vazia.
FAUSTINO, Mário. O homem e sua hora e outros poemas. Org. Maria Eugenia Boaventura. São Paulo: Companhia de Bolso, 2009, p.190. Na edição organizada por Benedito Nunes, em nota é informado que este poema também recebeu o título-dedicatória de Sonnet to a childless mother.
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