O que mais surpreende na blogosfera, e que justifica em última instância ter um blog, é o inesperado de uma fala, que ademais parece querer antes o enigma ― reviro suas páginas como se, ao fazê-lo, revirasse os dias de uma existência que não me alcança de fato, e ainda assim volto aqui e bato à porta e me pergunto. É possível pensar este verbo em sua intransitividade, quando pronominal: perguntar-se. Bato à porta do território adrede desarrumado da linguagem e me pergunto. E como um ritual já consagrado e incorporado, corto periodicamente os cabelos, como se daí pudesse advir alguma liberdade: os cabelos deixados para trás corporificam aquilo que pouco pertence a mim, de que preciso me desfazer para que possa mais livremente me perguntar.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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