A música "Esperando na Janela", composta por Gilberto Gil para integrar a trilha sonora do filme Eu, Tu, Eles (segue aqui um comentário) é uma boa surpresa, e dá bem a medida do tom que pontua o filme, uma espécie de dona flor e seus três maridos do sertão, que se deixam engambelar pela astúcia da personagem feminina, Darlene, que vai ludibriando-os, visando sua segurança social e econômica e a realização amorosa. A rigor, o primeiro marido é o provedor, o segundo é efetivamente o marido, e o terceiro é o amante. Nada espantoso para um ambiente de forte estratificação social e delimitação estreita dos papeis e da propriedade, que inclui a posse da própria mulher.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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