Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

fazer temeridades acompanhada

― Mari, você roubou mesmo o copo? Pelo jeito acabou tudo bem...
― Roubei.

A expressão fazer temeridades bem acompanhada é da amiga de Belo Horizonte que me pergunta se "roubei" o copo do bar onde estávamos, conforme havia dito que ia fazer. Ela foi embora mais cedo, fiquei com a R., que esqueceu a coisa. Quando estávamos indo embora, eis que saco da bolsa o precioso copo trazido de lembrança do bar orizontino (assim mesmo, sem o h). Ir ao bar é força de hábito e de expressão: quase não tenho bebido, e muitas vezes peço a cerveja sem álcool, só para sentir o gosto desse líquido dourado que adoro. Mas o caso é que essa prática de levar o copo para casa eu conheço de outros bares e carnavais, vendo amigos fazer ou ouvindo-os contar histórias. Nunca havia feito antes, mas como estou fechando um ciclo em Belo Horizonte, achei que merecia a façanha. Na verdade, a amiga empregou a expressão fazer temeridades bem acompanhada, em princípio, para outra coisa: decidir que filme assistir em cima da hora, na rua, comprando um jornal barato qualquer com a programação e sentando no primeiro lugar que encontrar. Já fizemos isso, dentro de um banco, mas não me lembrava mais. Aí que ela me escreve um mail intitulado "temeridades", perguntando pelo copo. Sorte a minha, que tenho boa companhia para fazer temeridades, mesmo ingênuas e inofensivas. Quando estou sozinha, também não é incomum fazê-las, só que não há testemunhas. 

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