Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sábado, 25 de junho de 2011

Emily Dickinson: There is a word / Which bears a sword

Uma palavra se abre
Como um sabre ―
Pode ferir homens armados
Com sílabas de farpa
Depois se cala ―
Mas onde ela caiu
Quem se salvou dirá
No dia do desfile
Que algum Irmão de armas
Parou de respirar.

Aonde vá o sol sem ar ―
Por onde vague o dia ―
Lá está esse assalto mudo ―
Lá, a sua vitória!
Observa o atirador arguto!
O tiro mais perfeito!
O alvo do Tempo
O mais sublime
É um ser “ignoto!”

*
There is a word
Which bears a sword
Can pierce an armed man ―
It hurls its barbed syllables, 
At once is mute again ―
But where it fell
The saved will tell
On patriotic day,
Some epauletted brother
Gave his breath away.

Wherever runs the breathless sun ―
Wherever roams the day ―
There is its noiseless onset ―
There is its victory!
Behold the keenest marksman!
Time's sublimest target
Is a soul "forgot"! 

DICKINSON, Emily. Não sou ninguém: poemas. Trad. Augusto de Campos. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2008, p. 20-21.

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