Jamais poderei esquecer, num verão quente do ES, em que estudávamos nas férias, compensando mais uma greve, que o professor dedicou, no curso de semiótica, três aulas consecutivas, perfazendo cerca de dez horas, a esta tela, de que me ficou, sobretudo, a imagem agônica do cavalo atravessado pela lança como o feminino destroçado (não excluídas outras incursões). O professor se chama Lino Machado e publicou este livro: As palavras e as cores: Guernica (e mais) na caligrafia de Carlos de Oliveira (Vitória: Edufes, 1999). Recentemente apareceu-me em sonho, precocemente envelhecido, e não sei até que ponto fui eu que envelheci neste sonho, haja vista que a pessoa que mais me interessava naquele grupo da UFES, minha querida amiga Maria Fernanda, veio, ou melhor, voltou de vez, para o Rio de Janeiro, trazendo para cá o que em vão eu ainda poderia buscar lá.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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