...
Ao fundo a ilha, movediça e torta,
de nossa infância,
ao fundo o ferro duro,
a fossa, o sapo, as tílias,
― falenas revoavam ―
posto pobre, impostura.
Híbridos fardos pesando sobre
a casta abençoada.
A carícia cortante ameaçando
corças frementes,
amargos beijos só prometidos, não concedidos
ao pajem disforme, em pé, de porte augusto.
Donde chegamos?
As pequenas pedras do vasto caminho
lembram-nos os cascos
do corcel lucente.
Caminho coleante, casa abandonada,
hibiscos pardos, acerbas cerejas ―
melhor contar os fatos:
não somos daqui.
Seiva perdida, só sobra o rito, a larva.
Ao fundo a ilha, semovente e morta,
as ânsias inocentes,
viagem, romãs em sangue,
as mangas explodindo
― e enorme laje ao pé da porta augusta.
E as doces sapotilhas,
nobres aspargos, ervas comuns,
portão, pedra insegura,
mulher queimando gatos
recém-nascidos.
E mudamos de casa
(não vamos por aí)
trocamos de casaco e fomos para a guerra
(granadas reboavam sobre o mangue)
e mudando de casca percorremos a terra.
Severas perlas, sol sobre o rio, lágrimas.
Aonde vamos?
Mundo abandonado,
mundo recém-parido
― nosso peito embaixo
desta ferradura ―
o mundo brilha como de aço e corta
nossa esperança ―
os perenes potros da várzea comum
salvam-nos do asco,
as serenas pétalas de vosso carinho
levam-nos ao caos.
...
FAUSTINO, Mário. O homem e sua hora e outros poemas. São Paulo: Companhia de Bolso, 2000, p.61.
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