TEXTO DE CONSULTA
1
A página branca indicará o discurso
Ou a supressão do discurso?
A página branca aumenta a coisa
Ou ainda diminui o mínimo?
O poema é o texto? O poeta?
O poema é o texto + o poeta?
O poema é o poeta – o texto?
O texto é contexto do poeta
Ou o poeta o contexto do texto?
O texto visível é o texto total
O antetexto o antitexto
Ou as ruínas do texto?
O texto abole
Cria
Ou restaura?
2
O texto deriva do operador do texto
Ou da coletividade – texto?
O texto é manipulado
Pelo operador (ótico)
Pelo operador (cirurgião)
Ou pelo ótico-cirugião?
O texto é dado
Ou dador?
O texto é objeto concreto
Abstrato
Ou concretoabstrato?
O texto quando escreve
Escreve
Ou foi escrito
Reescrito?
O texto será reescrito
Pelo tipógrafo / o leitor / o crítico;
Pela roda do tempo?
Sofre o operador:
O tipógrafo trunca o texto.
Melhor mandar à oficina
O texto já truncado.
3
O texto é o micromenabó do poeta
Ou o poeta o macromenabó do texto?
4
A palavra nasce-me
fere-me
mata-me
coisa-me
ressuscita-me
5
Serviremos a metáfora?
Arquivaremos a?
Metáfora: instrumento máximo;
CASSIRER.
A própria linguagem do homem.
ORTEGA Y GASSET
Invenção / translação.
6
A palavra cria o real?
O real cria a palavra?
Mas difícil de aferrar:
Realidade ou alucinação?
Ou será a realidade
Um conjunto de alucinações?
7
Existe o texto regional / nacional
Ou todo texto é universal?
Que relação do texto
Com os dedos? Com os dedos alheios?
Giro NÉ POUR D’ÉTERNELS
Com texto a tiracolo
PARCHEMINS
Sem o texto
(MALLARMÉ)
Não decifro o itinerário.
Toda palavra é adâmica:
Nomeia o homem
Que nomeia a palavra.
Querendo situar objetos
Construímos um elenco vertical.
Enumeração caótica?
Antes definição.
Catalogar, próprio do homem.
8
Morrer: perder o texto
Perder a palavra / o discurso
Morrer: perder o texto
Ser metido numa caixa
Com testo
Sem texto.
9
Juízo final do texto:
Serei julgado pela palavra
Do dador da palavra / do sopro / da chama.
O texto-coisa me espia
Com olho de outrem.
Talvez me condene ao ergástulo.
O juízo final
Começa em mim
Nos lindes da
Minha palavra.
MENDES, Murilo. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1994, p.737-740.
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